21.7.09

Prontos pra Fama


A fama é difícil mesmo. Essas pessoas privilegiadas sofrem escondidas de nós, reles população geral. Alguns se matam, ou morrem, devido ao tamanho desconforto que sentem em ser famoso. Outros não, exercem a função com o empenho de qualquer bom trabalhador em seja lá qual for o emprego. E o mundo necessita destes trabalhadores. É matéria prima pra toda mídia, televisão, noticiário, desde a Bravo até a revista de fofoca no caixa do supermercado. Por isso é bom mesmo que eles trabalhem pesado. Susan Boyle não estava pronta nem para a Inglaterra. Obama estava preparadíssimo pra tudo, inclusive para a presidência dos Eua. Além de um bom líder político, os americanos estavam precisando do carisma de Barack pra superar a apatia da era Bush.


E o humor deles parece ter melhorado mesmo. Depois de Obama, a celebridade do ano é Lady Gaga, uma cantora tresloucada e descaradamente pop com muita atitude e visual peculiar. O jornalista americano Tony Sclafani traçou um paralelo entre o sucesso do presidente democrata e da cantora dance, apontando que tempos de esperança se refletem em uma estética de música dançante e escapista. A teoria é difícil de engolir, mas na prática confere. É intenso o fervor que provocam na mídia a cada simples frase ou pose, e tanto calor humano provocaria fissuras na América conservadora de Bush.


Lady Gaga é esperta, cercou-se de jovens talentos para cuidarem da parte artística, num coletivo aos moldes da Factory de Andy Warhol, a “Haus of Gaga”. Como Madonna e tantos outros antes e depois ensinaram, sabe que a ousadia visual do espetáculo pop é tão importante quanto a música, por isso não tem nenhum pudor ao se vestir e exibe-se por aí em modelitos tão exuberantes que fazem pensar se ela não passa frio, e outras coisas mais. Lady Gaga é obcecada pela fama e demonstra capacidade magistral para a função. É sempre debochada e esdrúxula quando canta, dança e especialmente quando se veste. Compõe, toca piano, “Fame”, seu primeiro disco, já tem uns seis videoclipes (“Paparazzi” é seu auge até agora), “Disco Heaven” circula pela rede com as inéditas.


Anos 70, David Bowie, Studio 54, a Mídia e a Fama estão entre suas influências, declaradas a Paris Hilton, alguém melhor? Talvez David Bowie, que sabe muito sobre “Fame” e “Fashion”. Gaga, num de seus atrevimentos, surrupiou o clássico riff de “Fame”, música do nosso querido camaleão, chupada até mesmo por James Brown. E ela ainda diz por cima: “This beat is so funny, we made it with their money, haha hahahahaha”. Mas por cima do riff comprado de Bowie, a música vira “Fancy Pants”, que lembra Beck encarnando Prince (no disco Midnite Vultures), e Prince consequentemente, deixando o riff de Bowie esquecido de fundo.


Lady Gaga não é inovadora como Prince, Beck ou Bowie, mas é surpreendente. Sua irreverência segue a linha de Carmen Miranda, nascida a cem anos atrás, que cantava, dançava e se vestia esdruxulamente já em outras épocas. Uma entertainer completa, profissional, que trabalha muito, pondera nos detalhes e administra muito bem seu personagem. “A nova Madonna” parece até um termo cunhado especialmente para Lady Gaga, mas o frescor da novidade é revigorante para a música pop. O profissionalismo de Gaga contrasta com o abandono às drogas de Amy Winehouse, e sua ascensão à fama através das vias tradicionais das grandes gravadoras parece um retrocesso frente ao domínio atual da Internet sobre o mundo da música.


O trunfo de Lady Gaga é ser talentosa e conseguir exercer sua criatividade artística enquanto sua carreira deslancha aos moldes da indústria fonográfica em seu auge, fórmula dos grandes ídolos da música pop. Se segue a linha de cantoras pré fabricadas como Britney Spears e Cristina Aguilera, usa tal semelhança como usa de suas roupas escandalosas, apenas uma fantasia pop para conquistar o público. Lady Gaga abusa de seus trajes com a segurança de que amanhã pode mudar de roupa, e continuar se dando bem. “Don’t you wanna see these clothes on me?” ela diz em “Fashion”, antecipando os desejos do público. Versátil, Gaga segue a moda, mas a sua própria. Sem copiar tendências e estilos, sem ser um fruto direto da Internet e sem cair na linha de produção da indústria fonográfica que tudo padroniza, Lady Gaga é um alienígena na música pop atual, um verdadeiro talento do entretenimento, daqueles que se mede pelo carisma, não só pelos números. Deixando pra trás Britney, Bush e outros fantoches vazios de conteúdo que dominaram os anos 2000 até agora, Gaga é carisma puro, a popstar ideal pra era Obama.





21.4.09

Os fados são metalinguísticos





Quando o assunto é música portuguesa, os brasileiros prontamente se lembram de Amália Rodrigues, estrela maior do fado. Os mais modernos também podem citar o Madredeus, banda suave e melancólica que fez a ponte entre o trip-hop inglês e o fado. Alguns ainda terão a infelicidade de lembrar de Roberto Leal. Isto é tão depreciativo como falar de MPB citando Morris Albert.

Mas o brasileiro gosta de ser pejorativo com os portugueses. Quem nunca ouviu uma batelada de piadas sobre a inteligência dos nossos amigos lusitanos? Quem não fica com uma certa raiva dos lusitanos depois de uma aula de história do Brasil do ensino fundamental? É o que nos resta: rir da cara destes que foram nossos maus colonizadores e nos exploraram injustamente por séculos, resultando neste Brasil perdido que vemos hoje em dia.

Se a língua nos une, este preconceito embutido nos brasileiros nos distancia muito mais que o Atlântico. Espera-se que a reforma ortográfica seja a conciliadora, homogeneizando a língua e estimulando o intercâmbio cultural. Porém, mesmo numa perspectiva otimista, os resultados virão a longo prazo, e podem não ser tão profundos a ponto de acabarem com as nossas idéias pré-concebidas sobre o jeito de ser lusitano.

Mas estamos aí, nesta rede virtual chamada Internet, que nada mais é do que uma grande conciliadora mundial de interesses. Acessando web radios de Portugal ou fuçando no Soulseek, a constatação é de que a música portuguesa é um mundo a parte. Sim, há uma grande produção musical em Portugal, e nós não fazemos idéia disto aqui no Brasil. Ouvindo a rádio de música portuguesa da rede Cotonete constatei o preconceito que havia escondido em meus ouvidos.

A situação é na verdade ainda mais constrangedora: os portugueses ouvem muita música brasileira, são receptivos com a nossa cultura. Eles realizam o intercâmbio da parte deles. Enquanto isso o Brasil vira as costas, ignorando este velho conhecido, rindo de seu jeito falar e fazendo as mesmas velhas piadas que reafirmam o trauma colonial nas novas gerações.

Sessão de terapia para brasileiros com trauma colonial: abra seu Windows Media Player, clique em “sintonizador de rádio”, faça uma pesquisa por “cotonete” e sintonize “Cotonete – Portuguese Radio”. No início é comum surgirem sintomas como o riso. Neste caso persista com o tratamento até que o respeito comece a dar alguns sinais e o preconceito desapareça totalmente.


16.4.09

Porque os carnavais de antigamente eram mais divertidos



Leque de distribuição gratuita
para ser usado com o lança-perfume Rodo
(pronuncia-se "rodô").
Um brinde da Rhodia São Paulo!





13.4.09

Fafá de Belém recomenda


Walter Queiroz

O Nada Mal apresenta pra vocês “Filho do Povo”, o primeiro LP do baiano Walter Queiroz. Este disco traz “Filho da Bahia”, que foi o primeiro sucesso de Fafá de Belém (veja no you tube). A versão de Fafá entrou na trilha sonora de “Gabriela”, que também tinha Walter Queiroz, cantando “Quero ver subir, quero ver descer”. Em “Tamba-tajá”, o promissor disco de estréia de Fafá, a cantora gravou outra música de Walter, “Pode entrar”, que também foi incluída neste primeiro disco de Walter.

Walter Queiroz é um precursor do que viria se tornar a axé music. Foi compositor do Bloco do Jacu, bloco carnavalesco de Salvador, e é autor de “Ifá, um canto para subir”, gravada por Margareth Menezes. Em 1985, Walter gravou o deboche “Cambalacho”, tema da novela de mesmo nome (veja no you tube). A abertura desta novela foi o momento de maior sucesso que Walter já alcançou, tendo sua música executada diariamente em rede nacional por um bom tempo.

O primeiro disco de Walter Queiroz no entanto tem uma sonoridade mais próxima do samba, desde bossas e sambinhas (“Feijãozinho com torresmo”, gravada por Maria Creuza, “Meu papagaio falou”) até sambões estilo Clara Nunes (os batuques “Maravilha”, “Maculelê”, “Africana Re Re”, que abrem o disco). O LP tem o defeito de começar com as músicas mais empolgantes e terminar mais devagar. Mas Walter é um excelente compositor e a qualidade se mantém durante todo o disco. Depois deste, Walter lançou apenas mais um disco “Seguindo o mantra”, que não se acha na Internet. Quem tiver este disco pode fazer um grande favor para a música popular brasileira ripando-o em mp3 e disponibilizando-o para a comunidade. Se alguém já tiver em mp3, entre em contato por favor, ou passe o link. Não ia ser nada mal. O baiano merece ser redescoberto e “Filho do povo” precisa urgente de um lançamento caprichado em CD. Enquanto isso não acontece, você pode baixar aqui o disco.


http://www.4shared.com/file/98193503/36615a52/walter_queiroz_-_filho_do_povo_-_philips_6349332_1977.html



Fafá recomenda


18.2.09

Festa de lançamento do blog!

Baile dançante, com cerveja grátis. Não deu noutra, mulherada baixou!

Elis deu uma passada por lá.

OK!


Ok!
Blog lançado!
Nada Mal para uma primeira postagem hein?